Impossível de ser diagnóstica por exames de imagens e seus sintomas podem ser facilmente confundidos com uma tristeza normal. Mas só quem a tem, ou conhece os seus efeitos, pode entender o que essa doença significa.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a depressão é 4ª maior causadora de incapacidade no mundo, com 121 milhões de pessoas deprimidas. Em 2030, este número será quatro vezes maior que o de portadores de HIV. Então, você ainda acha que isso é brincadeira?!…
Deixa eu te contar um pouquinho sobre como me sinto:
Eu preciso lutar todos os dias para sair da cama, comer, tomar banho e ir trabalhar. Tarefas tão simples, que muitos executam de modo automático, se tornam um desafio gigantesco. Conseguir fazer isso é uma batalha vencida, frente uma guerra que irei encarar durante um dia inteiro de pequenas e grandes decisões, que irão definir se valeu a pena ou não esse sair. Essa impotência, vulnerabilidade e fraqueza, são muito difíceis de lidar.
Admitir que se está doente, de causas não “visíveis ou tratáveis”, como uma ferida ou um resfriado, não são fáceis de se fazer. Admitir que sozinha(o) você não se é capaz de resolver “esse problema” é uma batalha grande nesta guerra. Aí, você se assume “doente” e vai ao médico, àquele que ninguém quer precisar, com uma placa em frente à porta dizendo: Dr. Alguém – Psiquiatra, e sai do consultório com um pilha de receitas de medicamentos que você conhece as indicações, os efeitos, as reações adversas e sua famosa “tarja preta”. Seu cérebro imediatamente alerta: remédio controlado, que causa vício, pára transtornos mentais, vulgo, loucos?! Preciso disso?! A decisão de engolir o primeiro comprimido e todos os outros que se seguem ao longo de um tratamento, por vezes demorado, são as pequenas batalhas vencidas.
Aí vem a terapia. Outra batalha: ter os seus medos, anseios, sua intimidade, você, expostos a alguém totalmente desconhecido. E as suas paredes, que já estão trincadas e frágeis, caem por terra a cada sessão. Tudo tão doloroso e difícil quanto a decisão de levantar da cama a cada manhã.
Seus amigos, sua família, colegas do trabalho, vizinhos, ninguém, absolutamente ninguém sabe o que você está passando! E você se assegura de garantir que isso fique em segredo, e esconde a verdade de todos, isolando-se do mundo. E uma ora vem a decisão difícil de se tomar: como deixar alguém entrar nesse caos? Como permitir que alguém te veja assim, sem eiras ou beiras, com seus pedaços espalhados por todo o chão?! Não há mais paredes para se escorar; não há portas por onde você possa sair; não há onde se esconder.
O tempo vai passando e tudo se resume a viver um dia de cada vez. Um passo atrás do outro. Seus remédios, suas sessões de terapia, aquelas poucas pessoas que você permitiu estar ao seu lado… Eles se tornam seus companheiros diários nesta luta.
Um ano depois você percebe que não está sozinho. Não fique sozinho. Comemore aquele tímido sorriso que você não via há meses! Aproveite o dia de frio com um céu azul e sol brilhante; agradeça os amigos que tem (eles podem ser poucos agora, mas eles estão ai por você e para você). Quantidade não importa, quando se tem qualidade.
A guerra ainda não acabou, mas eu sei que estou lutando, com todas as minhas forças. Você pode não acreditar, mas chegar até aqui não foi uma tarefa fácil. Pode ser que não tenha notado, mas enquanto eu estava chorando sem que você entendesse o motivo, eu estava silenciosamente pedindo “me ajude”.
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