Itacuruba, cidade que tem uma das maiores taxas de suicídios do Brasil e que simplesmente sumiu em 1988 ao ser coberta de água por causa da construção da barragem de Itaparica, na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.
Se o cinema tem o poder de captar as transformações de um país, uma obra impactante como a transposição do Rio São Francisco tem tudo para irrigar o senso crítico e a criatividade dos cineastas do Brasil. O controverso projeto ainda foi pouco retratado em filmes nacionais, mas aos poucos começam a surgir produções cinematográficas (documentais e ficcionais) que abordam a questão direta ou indiretamente.
O curta-metragem De profundis, de Isabela Cribari, retrata o estado atual de Itacuruba, uma cidade que simplesmente sumiu em 1988 ao ser coberta de água por causa da construção da barragem de Itaparica, na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. No documentário, a cineasta retrata as ruínas submarinas das antigas casas e cria uma alegoria sobre os moradores do local, que tem uma das maiores taxas de suicídios do Brasil.
DEPOIMENTO DE ISABELA CRIBARI, DIRETORA DO CURTA DE PROFUNDIS:
“A relação das pessoas com seus lugares é muito maior do que se pensa. Não temos como prever o que o ocorrerá com a migração de pessoas por causa da transposição do Rio São Francisco, mas realmente não acredito que isto não as afetará negativamente. Não se pode tanger pessoas desta forma como se não tivessem consequências. Mudanças assim geralmente afetam muito as populações, que passam por novas adequações identitárias, redefinições diante do novo mundo e de si mesmos, um luto bastante complexo, que certamente enfraquece os laços sociais, e, como consequência direta deste processo, Itacuruba, por exemplo, tem altas taxas de suicídio. Emile Durkheim disse que quanto maiores os laços sociais em uma comunidade, menores as taxas de suicídio. Ir no sentido inverso certamente é bastante nocivo. É o que aconteceu com Itacuruba, é o que seus moradores contam no meu filme De profundis.”