Com presentes e festas sendo o foco da atenção nesta época do ano, a expectativa geral é que todo o mundo fique feliz no Natal.
Mas, se você sofre de uma doença mental ou se teve um ano difícil, a pressão para sorrir quando isso é esperado de você pode ser insuportável.
Para ajudar as pessoas que podem achar difícil viver este período festivo, quatro pessoas que tiveram dificuldade em encarar Natais passados ofereceram ao Huffington Post Reino Unido seus conselhos sobre como superar as festas de fim de ano.
“Não é fácil no Natal, porque todo o mundo espera que você seja alegre, que você seja a alma da festa”, opinou Craig Butler, executivo e planejador de marketing.
Craig sofre de depressão há cinco anos e diz que a depressão se agravou em um Natal passado.
“Amo minha família, mas a simples ideia de ficar com ela era insuportável. Eu não queria a companhia de ninguém”, ele explica.
“Era como se houvesse uma barreira entre mim e essa ideia de que eu deveria estar feliz.”
Craig descobriu que forçar-se a sair de sua “zona de conforto” e passar tempo com entes queridos o ajudou.
“Quando você sofre de depressão, você acha que precisa viver sempre dentro de um pequeno círculo restrito, porque se não ficar lá dentro, coisas ruins vão acontecer.”
“Na realidade, não acontecem coisas ruins. Se você percebe que há pessoas à sua volta –se você realmente se obriga a notar isso–, com o tempo você começa a acreditar, e é então que as coisas começam a mudar.”
A ilustradora Kirsty Latoya, de Londres, também teve dificuldade em encarar o Natal em anos passados.
Ela começou a sofrer de depressão quando estava no colégio. Ela acredita que isso se deva ao fato de que era mais alta que muitos de seus colegas e sentia vergonha por causa disso.
Ao longo dos anos, outras dificuldades, como brigas familiares, contribuíram para seus problemas de saúde mental. Mas esta época do ano sempre é particularmente difícil.
“Sempre que chega o Natal, começo a ficar ansiosa e deprimida. Nunca na vida tive um Natal realmente feliz”, ela diz.
Kirsty sabe que este ano haverá dificuldades especiais, já que sua mãe morreu em janeiro, mas ela vai ao Canadá passar algum tempo com sua tia e seus primos e está gostando da ideia de mudar de ares.
O conselho que ela oferece a quem está tendo dificuldade com o Natal é cercar-se de pessoas que lhe querem bem.
“Converse com as pessoas. Se você está sofrendo, não guarde silêncio sobre isso”, ela recomenda.
A administradora Toni White, de Devon, acha que o clima do inverno muitas vezes aumenta as chances de uma depressão na época do Natal.
“O sol nasce tarde e se põe cedo, os dias são escuros, todo o mundo quer entrar em um clima de hibernação, e a motivação entra em queda livre”, ela diz.
“Além disso, você enfrenta muita pressão para comprar os presentes certos e fazer um social. Quando você está deprimida, a última coisa que tem vontade é de ficar com gente, mas se você é ansiosa você não quer dizer ‘não’ – acha que precisa dizer ‘sim’ a todos os convites sociais.”
Alguns anos atrás a depressão e ansiedade de Toni estavam especialmente intensas e ela não conseguiu encarar passar o Natal com um grupo grande de amigos e parentes.
Em vez disso, passou o Natal apenas com sua mãe. As duas foram fazer uma caminhada e assistiram TV, e Toni se sentiu aliviada por não ser obrigada a fazer de conta que estava tudo bem com ela.
“Quando você está passando por dificuldades, o melhor conselho é ser egoísta, mas esse também é o conselho mais difícil de aceitar”, ela diz.
“Priorizar a si mesma não quer dizer que você seja uma pessoa ruim. Quer dizer apenas que na realidade você se ama.
“É preciso priorizar suas próprias necessidades e não ceder às pressões.”
Toni, Craig e Kirsty encontraram maneiras de administrar suas condições de saúde mental no Natal. Mas algumas pessoas, infelizmente, não conseguem suportar as festas de fim de ano.
O irmão de Mark Harris, Simon, suicidou-se pouco depois do Natal, dez anos atrás.
Mark conta que nos dias que antecederam o Natal seu irmão foi afastando seus familiares cada vez mais, apesar dos esforços destes para conversar com ele.
“Foi incrivelmente triste naquele dia de Natal, quando devíamos todos fazer o almoço de Natal em família, saber que ele estava em casa sozinho e que ele estava muito mal”, diz Mark.
Várias questões complexas levaram Simon ao suicídio, mas Mark acredita que seu irmão tenha sentido pressão a mais no Natal.
“Há pressão na época do Natal. A publicidade é intensa e implacável”, ele explica.
“Ficam nos dizendo que para termos um Natal perfeito precisamos comprar isso ou aquilo, que precisamos estar todos juntos. Quando você não está naquele clima, a pressão é muito difícil de suportar. As pessoas precisam de espaço, precisam de tempo, e acho que é importante que elas tentem encontrar isso no Natal.”
Mark, que hoje trabalha no escritório da organização Samaritans no centro de Londres como gerente de contatos com a comunidade, achou tremendamente difícil o Natal seguinte à morte de seu irmão, mas conta que superou a dificuldade conversando com outras pessoas.
“A coisa que me ajudou tremendamente e me possibilitou dar uma virada na minha vida foi conversar”, ele comenta.
“Eu sou um homem mais ou menos típico, alguém que gosta de falar de futebol e outros assuntos leves.
Antes da tragédia, eu nunca falava das coisas que me afetavam. Foi apenas quando Simon morreu e me ofereceram apoio psicológico que eu me dei conta que precisava me abrir com outras pessoas.
“Se você conversa com outras pessoas, isso alivia o peso que você carrega.”
A boa notícia é que existe apoio disponível para pessoas que enfrentam problemas psicológicos ou pensamentos suicidas neste Natal.
A Samaritans lançou sua campanha #NatalVerdadeiro (#RealChristmas) para incentivar todos nós a sermos mais sinceros sobre nossos sentimentos nesta época do Natal.
Como parte da campanha, a entidade beneficente criou vales que você pode descarregar do site dela e imprimir, para então oferecer a seus entes queridos “a dádiva de ouvir”. As linhas telefônicas da entidade vão funcionar durante as festas de fim de ano, disponíveis para qualquer pessoa que sinta a necessidade de conversar com alguém.
Mark Rowland, diretor da Mental Health Foundation, também acha que não há necessidade de reprimir seus sentimentos ou fingir que está tudo bem durante o Natal.
“Como sabemos, o Natal pode ser um momento especialmente difícil para as pessoas”, ele disse ao HuffPost Reino Unido.
“Tirar tempo para cuidar de você mesmo é especialmente importante em momentos difíceis ou de muito estresse. Por isso estendemos nossos torpedos diários para abrangerem o período do Natal. Mandando a mensagem TIPS para o número de telefone 70300, você receberá uma mensagem de texto por dia, durante sete dias, com lembretes das coisas que todos nós podemos fazer para proteger nossa saúde mental, além de informações sobre como conseguir ajuda.”
Para concluir, Stephen Buckley, diretor de informações da organização beneficente Mind, diz que há algumas coisas simples que você pode fazer se estiver preocupado com a saúde mental de uma pessoa querida neste Natal.
“Se uma pessoa de sua família ou um amigo estiver tendo dificuldade em encarar o Natal, procure não lhe dizer para ‘criar coragem’, nem criticar a pessoa por sentir-se ansiosa ou deprimida”, ele recomenda.
“É muito provável que ela mesma já esteja se criticando. Ser criticado por outras pessoas provavelmente a deixará ainda mais para baixo.”
Buckley explica que o mais importante é dizer a seu amigo ou parente que você entende que ele talvez não queira participar de certos eventos ou festividades natalinos.
“É preciso muita coragem para alguém admitir que precisa de ajuda. Seria útil se você mesmo tocasse no assunto”, ele diz.
“Às vezes não é preciso falar explicitamente de saúde mental para descobrir como a pessoa está –basta mandar um torpedo para ela saber que você está pensando dela, convidá-la para um café ou jantar ou para fazer uma caminhada com você.
“Se você quiser alguém com quem se abrir no período do Natal, temos uma comunidade online que dá apoio e que é segura, chamada Elefriends , em que as pessoas podem compartilhar suas histórias, experiências e sentimentos. Haverá moderadores atuando na comunidade durante o Natal.”
Este artigo foi originalmente publicado pelo HuffPost US e traduzido do inglês.