“A alegria acaba, o sorriso vai embora. Tudo se torna uma desgraça. É um tormento sem fim. Como se tivesse uma nuvem escura em cima de você e você não conseguisse escapar”, relata Samuel*, ao recordar o período de depressão pelo qual sua esposa passou.
O transtorno veio após um grave acidente de carro. Ela ficou hospitalizada e, após um longo período de convalescência, não pôde mais retornar ao trabalho devido aos ferimentos sofridos.
“Você acha que a pessoa está ficando louca. É muito difícil, especialmente no começo, quando você não sabe o que está acontecendo”, afirma Samuel à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
Quando alguém recebe um diagnóstico de depressão, compreensivelmente todas as atenções se voltam para essa pessoa.
No entanto, os familiares e amigos que convivem e tomam conta dela também passam por momentos muito difíceis. Segundo psicólogos, também correm risco de desenvolver um quadro depressivo e precisam se cuidar.
Em meio a todos os problemas causados pela depressão, a vida continua. As contas de casa continuam chegando, é preciso cozinhar, trabalhar e tomar conta dos outros membros da família, especialmente quando há crianças.
Samuel conta que todas as manhãs precisava levar seus filhos, de 4 e 5 anos de idade, à escola antes de ir ao trabalho.
“Não havia opção, tinha que continuar trabalhando e tentando proporcionar aos nossos filhos um pouco de rotina e normalidade. Quando a gente voltava, ao final da tarde, eu descia do carro antes e dizia às crianças para esperarem até eu voltar para buscá-los”, relata.
“Eu abria a porta de casa e dava uma olhada para ver como estavam as coisas. Tinha medo de encontrar minha esposa enforcada. Então tinha que me assegurar de que meus filhos não iriam presenciar algo tão traumático.”
Sentimentos intensos
Aqueles que passam por situação semelhante contam que é muito difícil administrar a intensidade dos sentimentos.
“Todos os dias a minha esposa dizia que queria morrer. Eu ficava aterrorizado. Você se sente cansado, frustrado, angustiado, triste.
Não tem força, não vê como vai sair do buraco”, diz ele.
Rebeca*, mãe de um adolescente de 14 anos de idade, também passou por situação semelhante. Sua voz fica embargada ao descrever um dos piores momentos da crise que enfrentou.
“Mamãe, me deixe morrer, me deixe morrer”, dizia o menino em uma das três ocasiões em que tentou tirar sua própria vida.
“Você sente pavor, dor, medo. É uma situação extremamente estressante. Você vê o seu filho sofrendo e não sabe como agir, o que fazer. Sentia que o meu coração e a minha vida estavam sem um pedaço”, conta Rebeca.
TIPOS DE DEPRESSÃO
Moderadamente severa
O efeito no dia a dia não é tão agudo. A depressão desse tipo pode causar dificuldades de concentração no trabalho e afetar a motivação em fazer atividades que normalmente seriam prazerosas.
Grave
Afeta o dia a dia do indivíduo. Coisas básicas como comer, tomar banho e dormir se tornam difíceis. A internação em um hospital pode ser necessária.
Desordem bipolar
As pessoas que sofrem dessa condição apresentam variações extremas de humor. Elas podem se sentir eufóricas e indestrutíveis e, em seguida, serem acometidas por desespero, letargia e pensamentos suicidas.
Depressão pós-natal
Afeta algumas mães após o parto. Ansiedade, fadiga, falta de confiança e sentimento de incapacidade de cuidar do bebê são alguns dos sintomas apresentados por quem sofre desse tipo de depressão.
Fonte: Mental Health Foundation
Quem cuida de um indivíduo com depressão deve encontrar tempo para cuidar de si mesmo.
DICAS PARA LIDAR COM A DEPRESSÃO
1.- Mantenha-se saudável. A alimentação deve ser adequada e as refeições devem ocorrer em horários regulares. Também é importante descansar o suficiente e fazer algum tipo de atividade física.
2.- Compartilhe os seus sentimentos com alguém de confiança. É fundamental receber o apoio de algum amigo ou parente, especialmente se está atravessando um momento difícil. Se não for possível um encontro em pessoa, um email, uma mensagem de texto, uma videoconferência ou uma ligação telefônica podem ser igualmente úteis.
3.- Praticar alguma técnica de relaxamento. Além de relaxar, esse exercício faz com que a pessoa passe algum tempo dedicada a si mesma. Entre as alternativas estão yoga, meditação ou MBSR (técnicas de mindfulness para reduzir o estresse). Apenas alguns poucos minutos já serão de grande ajuda.
4.- Organize-se. É útil manter um cronograma com as atividades a serem executadas, com doses e horários de medicamentos a serem ministrados à pessoa com depressão. É preciso também manter disponíveis os contatos para emergências e um plano para a ocorrência de algum imprevisto.
Fonte: Mind, ONG britânica dedicada à saúde mental.
*Os nomes nesta reportagem foram modificados para preservar a identidade dos entrevistados.