Episódios trazem ao debate a questão da prevenção do suicídio
A série 13 Reasons Why traz ao debate a questão da prevenção do suicídio, e, especialmente, o suicídio adolescente, fenômeno que cresceu no Brasil nos últimos anos. Pacientes têm falado da série e decidi assisti-la por isso.
A série traz uma visão de que o suicídio acontece por diversas razões, mas falha por dois principais motivos: mostrar o suicídio da personagem, de uma forma bem gráfica, o que não é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pode causar o ‘Efeito Werther’, que é quando um suicídio pode inspirar pessoas fragilizadas a fazerem a mesma coisa e também por colocar a responsabilidade do ato nas pessoas escolhidas, denotando não só uma relação de causa-efeito como uma vingança com a morte.
Não podemos culpar ninguém pelo suicídio de outra pessoa. Mesmo que estas estejam envolvidas nos problemas que levaram ao suicídio, a reação de cada um a estas ações é diferente para cada pessoa.
Também faltou trazer à tona uma discussão mais aprofundada sobre saúde mental e também e, além disso, faltou explorar a forma como pessoas que precisam de apoio possam ser ajudadas ou possam tomar atitudes diferentes de Hannah.
O mais importante é haver acompanhamento dos pais ou de um especialista. A série não é recomendável para adolescentes que já estejam fragilizados, mas tudo depende do tipo de acompanhamento que terão e como reagirão à série. Poderiam ter explorado melhor o que acontece após o suicídio, para não romantizar o ato. O que ela poderia ter feito de diferente? De quem poderia ter buscado ajuda? Isso poderia ser debatido no final de cada episódio, por exemplo.
Dito isso, vamos aos pontos positivos: pais e filhos estão assistindo à série e tendo um diálogo sobre isso, que é considerado um assunto tabu. Serve também para o jovem perceber as consequências de suas atitudes e perceber que, muitas vezes, uma ação isolada pode machucar – e muito – outra pessoa.
Outro destaque é o fato de que a série traz a possibilidade de as escolas discutirem bullying e trabalhar com o assunto do suicídio na escola e a dor do luto. Para cada suicídio, de cinco a dez pessoas serão extremamente impactadas. Isto deve ser visto com muita sensibilidade, pois há um aumento de comportamento suicida nos enlutados.
Se a escola e os pais usarem a série como mote de discussão sobre bullying, cyberbullying, estupro, uso de álcool, drogas e outras temáticas trazidas, pode ser muito positivo. A série é enfática ao mostrar as dificuldades no diálogo entre pais e filhos. Muitas vezes aquilo que é considerado sofrimento para o adolescente é visto como banal para o adulto. Quem sabe 13 Reasons Why não sensibilize uma mudança de comportamento neste sentido.
* Karen Scavacini é psicóloga e coordenadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio
Fonte: Estadão Saúde